O tempo escolar no currículo da escola de tempo integral : uma relação entre "temos todo tempo do mundo" e "não temos tempo a perder"

Esta tese tem como objetivo compreender como o tempo escolar ampliado proposto pelo Programa Mais Educação é operacionalizado na instituição educacional e de que maneiras sua ampliação produz efeitos no currículo escolar. O estudo prioriza o tripé conceitual educação integral, tempo escolar e currículo, a partir de uma aproximação com os Estudos Culturais. Os dados foram discutidos utilizando a análise do ciclo de políticas de Ball, a noção de “representação” de Hall e o conceito de “ambivalência” de Bauman, para ressaltar que as ambiguidades convivem com processos de negociação de significados e sentidos na implantação e implementação da política. A pesquisa, de caráter quali-quantitativo, com inspiração etnográfica, foi desenvolvida em duas escolas de uma mesma cidade do Rio Grande do Sul que aderiram ao Programa Mais Educação em 2008. Todavia, essas escolas tinham a particularidade de serem integralizadas na sua totalidade de alunos e de desenvolverem um projeto municipal de turno integral. Os dados foram coletados por meio de observação, elaboração de diário de campo, entrevistas semiestruturadas com professores, alunos e equipe diretiva de cada uma das escolas investigadas, questionários aplicados aos alunos e professores de ambas as instituições de ensino, além da análise documental referente ao Programa Mais Educação, ao Projeto Municipal de Turno Integral e aos projetos político-pedagógicos de cada uma das escolas analisadas. Como resultados, esta pesquisa demonstrou que o aumento do tempo escolar induzido pelo Programa Mais Educação e recontextualizado, pelo processo de hibridismo cultural, no município investigado torna-se indispensável para a efetivação da educação integral como política curricular. Entretanto, os obstáculos encontrados atualmente para sua execução – quanto a repasse de recursos financeiros, conquista de profissionais qualificados e comprometidos com a promoção da jornada ampliada, ampliação dos espaços para a realização da proposta de turno integral, clara divisão de turno e contraturno praticada – tendem a esvaziar o tempo ampliado, dificultando a constituição de uma proposta pedagógica de educação integral em tempo integral. Dessa forma, os tempos educacionais dessas escolas continuavam amarrados a uma perspectiva linear e cronológica de formação de um currículo que evidenciava a relevância dos saberes disciplinares e não efetivava uma política de integração curricular. A operacionalização da integralização verificada demandou uma organização espaço-temporal mais rígida, de tal forma que o tempo ampliado assumiu marcas ambíguas: (a) da disciplina; (b) do improviso/inventivo; (c) do conhecer e conviver; (d) da proteção. O estudo possibilitou compreender também que, se os efeitos da ampliação do tempo escolar demonstravam-se singelos ante a possibilidade de provocar uma reestruturação curricular da escola, por outro lado, eles demonstraram que a ação mais significativa estava ressaltada nas figuras do ser professor e ser aluno no desenvolvimento da escola de turno integral. A extensão da jornada ampliada demonstrou-se cansativa tanto para alunos quanto para professores, ao mesmo tempo que evidenciou uma forte representação da escola como local de proteção e convívio e uma queda de interesse pela jornada ampliada de educação à medida que aumentava o ciclo de formação do estudante.

Autor: 
Vivian, Danise
Orientador: 
Traversini, Clarice Salete
Arquivo: 
Ano Publicação: 
2015